Início: 30/05/2020 19:20 | Fim: 28/06/2031 20:40
Será que a visão profética sempre supõe a alienação dos sentidos ???
A revelação profética se realiza mediante quatro influências; a saber: pelo influxo do lume inteligível; pela imissão das espécies inteligíveis; pela impressão ou ordenação das formas imagináveis e pela expressão das formas sensíveis. Ora, como é claro, não há alienação dos sentidos quando uma coisa se manifesta à mente do profeta por meio de espécies sensíveis, quer estas tenham sido divinamente formadas, para tal fim – como no caso da sarça mostrada a Moisés e da escritura, a Daniel –– quer tenham sido produzidas por outras causas, contanto que sejam pela providência divina ordenadas a alguma significação profética, como no caso da arca de Noé, que significava a Igreja. Semelhantemente, nenhuma necessidade há da alienação dos sentidos exteriores quando a mente do profeta é ilustrada pelo lume inteligível, ou informada pelas espécies inteligíveis. Pois, o juízo do nosso intelecto se torna perfeito pela conversão, do intelecto às causas sensíveis, que são os princípios primeiros do nosso conhecimento.
Mas, se a revelação profética é feita mediante formas imaginárias, há de necessariamente ser acompanhada da alienação dos sentidos, para que essa aparição dos fantasmas não seja referida ao que é percebido pelos sentidos externos. E essa alienação dos sentidos é às vezes perfeita a ponto de não percebemos nada por meio deles; outras vezes é imperfeita, de modo que temos percepções sensíveis, mas não discernimos plenamente o que exteriormente percebemos, daquilo que vemos em imaginação. Donde o dizer Agostinho: Veem–se em espírito as imagens dos corpos ao mesmo tempo que se veem os corpos, com os olhos; de maneira a se perceber simultânea mente com os olhos um homem presente e outro, com o espírito, como se fosse visto. Mas, essa alienação dos sentidos não implica nos profetas nenhuma desordenação da natureza, como o implica nos posses os e nos loucos. Ao contrário, ela resulta de uma causa ordenada natural, como quando se dá por meio dos sonhos; ou anímica, quando, por exemplo, resulta de uma veemente contemplação, segundo aconteceu com Pedra, ao qual, segundo a Escritura, sobreveio um rapto de espírito quando orava no cenáculo; ou também pode resultar de um arroubo divino, conforme aquilo: Obrou a mão do Senhor sobre ele.
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