Se os profetas sempre conhecem o que
profetizam.
O quarto discute–se assim. – Parece que os
profetas sempre conhecem o que profetizam.
1. – Pois, como diz Agostinho, quando os
profetas veem em espírito, por semelhanças das causas corpóreas, certos
acontecimentos, se a inteligência não lhes fizesse compreendê–las, não haveria
ainda profecia. Ora, o que inteligimos não nos pode ser desconhecido. Logo, o
profeta não ignora o que profetiza.
2. Demais. – O lume da profecia é mais
excelente que o da razão natural. Ora, quem, pelo lume natural, tem a ciência
não ignora o que sabe. Logo, quem anuncia alguma causa por meio do lume
profético não pode Ignorá–la.
3. Demais. – A profecia se ordena à iluminação
dos homens, e por isso diz a Escritura: Temos a palavra dos projetas, à qual
jazeis bem de atender, como a uma tacha que alumia em um lugar tenebroso. Ora,
ninguém poderá iluminar os outros, que não estiver já iluminado em si mesmo.
Logo, parece que o profeta há de primeiro ser iluminado, para conhecer o que
anuncia aos outros.
Mas, em contrário, o Evangelho: Ora Caifás não
disse isto de si mesmo; mas, como era pontífice daquele ano, projetou que Jesus
tinha de morrer pela nação. Ora, Caifás não o sabia. Logo, nem todo profeta
sabe o que profetiza.
SOLUÇÃO. – Na revelação profética a alma do
profeta é movida pela Espírito Santo, como um instrumento imperfeito, pelo
agente principal. Ora, a alma do profeta é movida não só para apreender mas
também para falar ou agir; umas vezes, porém, para todos esses três atos
simultaneamente; outras, para dois, e outras enfim, só para um. E qualquer
deles é acompanhado de uma certa privação no conhecimento. – Assim, quando a
alma do profeta é movida para julgar ou apreender alguma causa, é lhe, umas
vezes, concedida a só apreensão dessa coisa: outras, é lhe, além disso,
concedido conhecer que tal coisa lhe foi divinamente revelada. –
Semelhantemente, às vezes, é movida a alma do profeta a falar de modo a
entender a intenção do Espírito Santo, mediante as suas palavras, como se deu
com Davi quando disse: O espírito do Senhor falou por mim. Outras vezes, aquele
cuja alma é movida a proferir certas palavras não compreende o que visa o
Espirito Santo, com tais palavras, como foi o caso de Cairás. – Do mesmo modo,
quando o Espírito Santo move a alma de alguém à prática de um ato, às vezes
essa pessoa compreende o que faz, como se deu com Jeremias, quando escondeu o
cinto no Eufrates. Outras, não, como os soldados que partilhavam as vestes de
Cristo sem compreenderem o significado do seu ato. – Quando, portanto, há
consciência da moção do Espírito Santo, para se julgar ou exprimir alguma
coisa, por meio de palavras, ou de atos, isso constitui propriamente a
profecia. Quando, porém, a moção é inconsciente, não há profecia perfeita, mas
uma como inspiração profética.
Devemos porém saber que, sendo a alma do
profeta um instrumento imperfeito, como dissemos, nem mesmo os verdadeiros
profetas conhecem tudo o que pretende o Espírito Santo por meio das visões, e
das palavras ou ainda dos atos que praticam.
E daqui se deduzem claras as RESPOSTAS ÀS
OBJEÇÕES. – Pois, as primeiras objecções se referem aos verdadeiros profetas,
cuja alma é perfeitamente ilustrada por Deus.